sexta-feira, 26 de junho de 2015

Dunga desabafa contra a pressão e diz se sentir como um afrodescendente

Habituado às cobranças desde os tempos de jogador, quando foi crucificado na Copa do Mundo de 1990 e exaltado na conquista de quatro anos depois, Dunga já deu os primeiros sinais de insatisfação com as contestações em sua segunda passagem como técnico da Seleção Brasileira.
“Até acho que sou afrodescendente de tanto que apanho. Olham para mim, e começam a bater”, ironizou Dunga, nesta sexta-feira, recorrendo ao histórico de violência contra negros para embasar a sua argumentação.
O sucessor de Luiz Felipe Scolari colecionou alguns elogios com a série de vitórias da Seleção em amistosos, despertou a desconfiança com o mau desempenho no início da Copa América e viu a sua equipe virar alvo de contestações mais fortes a partir da ausência do atacante Neymar, punido pela Conmebol.
“Não adianta a gente ficar chorando por causa de opiniões. Cada um pensa como bem entende. Só ressalto que o Brasil ficou 40 anos sem ganhar uma Copa América (de 1949 a 1989) e tendo jogadores e seleções excepcionais nesse período. Para vocês verem o quanto é difícil”, rebateu.
Rafael Ribeiro/CBF
Técnico comparou a criticada Seleção Brasileira que defendeu como jogador com a atual
O recado de Dunga foi um claro ataque a Seleções que foram exaltas mesmo sem títulos, como a de 1982, em contraposição com as criticadas e vitoriosas, como a que ele integrou em 1994. “É simples: fomos ruins com sorte, enquanto outros foram bons com azar. Não tem muito que falar. Tudo o que a gente fazia era ruim”, desabafou.
Para Dunga, o paralelo com o Brasil que ele defendeu como atleta com o atual é válido. “Os jogadores de hoje têm uma pressão enorme, um pouco diferente da nossa, mas também muito dura por causa do que aconteceu na Copa do Mundo. Só que, se houve uma Seleção boa que não ganhou nada, por que você coloca pressão em uma que considera ruim? Como vou explicar que o ruim ganha e o bom perde? Dirão que nem sempre o melhor vence, e eu concordo, mas o bom deveria ter ganhado em 24 anos”, insistiu, mencionando o jejum de títulos mundiais do Brasil de 1970 a 1994.
O discurso inflamado também serviu para o técnico demonstrar confiança no questionado time que tem em mãos na Copa América. Com Neymar, o Brasil sofreu para fazer 2 a 1 sobre o Peru e perdeu por 1 a 0 para a Colômbia. Sem ele, fechou-se na defesa para segurar um 2 a 1 em cima da Venezuela. E no sábado enfrentará o Paraguai, em Concepción, pelas quartas de final do torneio continental.
“Só pensamos em ganhar. Mesmo quando você consegue isso, não vai satisfazer a todos. É o preço que se paga, mas está bom porque temos a alegria e o orgulho de defender o País”, bradou Dunga. “Mas não vamos achar que tudo é ruim, só criticar. A Seleção está adquirindo experiência na Copa América, aprendendo a jogar esse tipo de competição, com um grau de dificuldade maior. Será importante para as Eliminatórias. Devemos estar preparados para dar uma resposta e ressurgir a todo o momento.”
Depois de tanto falar em defesa daquilo que não convence os críticos, Dunga garantiu já ter se dado por vencido depois da sua primeira passagem como treinador da Seleção Brasileira, marcada por desentendimentos com jornalistas. “É inútil debater algumas coisas. Aprendi que devo focar mais no meu trabalho e não me importar com o que não posso mudar, com que só perderia o meu tempo e a minha energia”, concluiu o pressionado capitão do tetracampeonato mundial.

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