O alto preço praticado por hotéis, albergues, pousadas e pensões no Rio de Janeiro têm assustado os voluntários selecionados para os Jogos Olímpicos. E a dois meses do início do evento, vários deles já desistiram ou falam em desistir do trabalho caso não encontrem opções mais econômicas ou até mesmo gratuitas de hospedagem.
Esta tem sido a principal queixa das pessoas que vivem fora do Rio. Os moradores de outras cidades e países representam 54% do total dos 50 mil voluntários selecionados. São cerca de 28 mil pessoas que precisarão de um lugar para ficar.
O UOL Esporte teve acesso a um-email (veja mais abaixo) enviado por uma pessoa do Comitê a alguns voluntários dando opções de hospedagem. Um apartamento para quatro pessoas, por exemplo, saía por R$ 1 mil por dia.
"Eu me voluntariei para os Jogos pois sou recém-formado em Educação Física e achei que seria uma ótima oportunidade para enriquecer o currículo. Fui selecionado para o Complexo de Deodoro que é fora de mão de tudo. Fui atrás de albergue e aí vem o problema. Os preços estão inflacionados. Diárias de R$ 50 estão saindo por R$ 200 e, no mínimo, eu teria de ficar no Rio dois períodos de 15 dias para Olimpíada e Paraolimpíada. Ou seja, a conta vai pra mais de R$ 5 mil, o que tornou um investimento inviável. Já enviei um e-mail desistindo da participação", afirmou ao UOL Esporte o representante comercial Caio Lissoni.
"É muito difícil para uma pessoa arcar com as despesas de transporte, todos esses dias sem trabalhar e ainda o custo altíssimo de hospedagem. Se eu não achar um local muito em conta ou alguém, alguma família carioca que me adote, certamente não irei. Tenho conversado com outros voluntários e muitos estão com esta ideia de desistir se não acharem nada", disse Maico Cabestre, que é massoterapeuta e foi escolhido para trabalhar na área médica
As reclamações acima exemplificam a dificuldade vivida por muitos dos voluntários da qual o Comitê Rio-16 já está ciente. Até mesmo em virtude deste problema, o órgão lançou nesta semana a plataforma "Meu Lugar no Rio". Nela, qualquer morador do Rio de Janeiro pode se inscrever e disponibilizar um local de hospedagem, tornando-se anfitrião. A cobrança de diária ficará a cargo de cada um. O Comitê espera que isso ajude a superar ou ao menos diminuir o número de desistências.
"Sabemos deste cenário (dificuldades dos voluntários em conseguirem hospedagem) e é uma preocupação. Já vínhamos observando há algum tempo e por isso decidimos lançar esta ferramenta que também oferece alguns hotéis e pousadas que são mais baratos. Esta questão de moradores do Rio receberem pessoas de outros lugares funcionou muito bem na Jornda Mundial da Juventude de 2013", explicou Flavia Fontes, gerente-geral de voluntários.
"Sabemos que pode haver pessoas que desistam, mas estamos tentando criar alternativas. Também temos voluntários na nossa lista de espera caso haja estas desistências", completou Flavia.
O Comitê diz ter recebido cerca de 300 mil inscrições e ter selecionado 80 mil voluntários. Como 50 mil serão usados, há ainda uma sobra de 30 mil.
Em grupos de redes sociais, voluntários sugerem que o Comitê disponibilize escolas e universidades públicas para que eles se hospedem. Mas a logística é um complicador.
"Apesar de as escolas estarem em férias, o nosso volume de pessoas é muito grande e precisaríamos fazer diversas intervenções na estrutura delas. Não teríamos tempo hábil para isso. Mas estamos trabalhando com alguns grupos de escoteiros e paróquias", completou.
Voluntários têm outras indefinições
A dificuldade com hospedagem não é a única enfrentada pelos voluntários. Diversos seguem sem receber as cartas-convites e a escala de trabalho para poderem organizar a viagem ao Rio.
"As escalas não saíram, não passaram nada e preciso urgentemente disso para me programar no serviço e ver os valores de hotéis", disse a voluntária Bartira Fonseca Pompeu, que vive em São Paulo.
"Moro em São Paulo e tenho que fazer reserva de hotel e passagem, mas só posso fazer quando e onde irei atuar. Existe também o fato de que preciso pedir dispensa do trabalho e não posso fazer 1 semana antes. Tem muita gente que já desistiu e outras estão em vias de fazer o mesmo", reclamou Marcelo Barroso.
Questionada sobre isso, a gerente-geral de voluntários afirmou que todos os selecionados terão a carta e a escala. Porém afirmou ser impossível fixar uma data para isso, pois os horários de trabalho são determinados por cada área de cada instalação.
O que é certo é que cada voluntário trabalhará nove horas por dias, com direito a uma de almoço. O Comitê, além de uniforme fornece alimentação durante a jornada de trabalho e transporte até as arenas. Os voluntários também têm direito a desconto de 15% no valor das passagens áreas adquiridas para voar pela LATAM, parceira oficial dos Jogos.
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