segunda-feira, 2 de maio de 2016

Desprezado no São Paulo, zagueiro supera 'lesão de Fenômeno' para brilhar no Santos

DIVULGAÇÃO
Cassius Santos B Futebol Divulgação
Cassius treinava junto com o time B e deve ser alçado ao principal
Dar a volta por cima. Esse é o objetivo de Cassius Vinicius Coelho, zagueiro relacionado pela primeira vez para o time profissional por Dorival Júnior. Ele estará na partida de ida contra o Santos-AP, em Macapá, na estreia da Copa do Brasil. Contratado para o time B santista (espécie de Sub-23), o jovem de 20 anos precisou superar grandes dificuldades na carreira como lesões graves e dispensa.A primeira grande oportunidade veio ao chegar ainda garoto em Cotia, justamente no rival de seu atual clube, em 2006, mas terminou em desilusão.
"Eu era volante em Campo Grande, às vezes era zagueiro. Apareceu uma proposta para vir ao São Paulo, com dez anos, e vim. Minha mãe não ficou animada porque sair de cidade pequena é complicado, ela tem muito medo. Então fazia bate volta e, com 12 anos, eu fui morar em definitivo em São Paulo", conta, em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br.
"Quando cheguei, estava com aqueles ataques do PCC, imagina... Eu, moleque, vindo da cidade do interior. Meus pais morriam de preocupação (risos)", gargalha, ao lembrar do terror na investida da organização Primeiro Comando da Capital.
Naquela equipe tricolor paulista juvenil, Cassius atuou com diversos jogadores já conhecidos atualmente, como o volante Matheus Sales, do Palmeiras, o lateral-esquerdo Matheus Reis, até hoje no São Paulo, Lucas Evangelista, da Udinese-ITA e emprestado ao Panathinaikos-GRE, além de Serginho, seu companheiro de Santos.
ARQUIVO PESSOAL
Cassius Matheus Sales São Paulo Futebol Arquivo Pessoal
Cassius ao lado de Matheus Sales no São Paulo
Mas a transferência de estado de um importante integrante da comissão técnica fez praticamente todo o time se desmanchar à época.
"Nosso time dos nascidos em 95 era muito forte. Foi uma saída complicada. Quando o Silva, ex-gerente da base do São Paulo, saiu para o Paraná, muitos jogadores foram mandados embora também. O Matheus Sales saiu um tempo antes, meu pai achava ele muito bom e tinha aquela amizade fora de campo, ele sempre elogiava: ‘Esse moleque é fora de série'", lembra.
Quando conseguiu se encontrar na Portuguesa, Cassius chegou a até receber diversas propostas de clubes grandes brasileiros e estava perto de ser convocado pela primeira vez para a seleção brasileira de base.
"Com 17 anos, subi para o profissional com o Péricles Chamusca. Permaneci lá no profissional, na Série A do Brasileiro, com o Guto Ferreira. Daí, no ano seguinte, desci para jogar Copa São Paulo e estava jogando muito bem, me destaquei. Eu já estava vendido para o Palmeiras e naquela época veio o Inter também interessado. Tinha até um oficio à Portuguesa que eu seria convocado para a seleção sub-20, o (Alexandre) Gallo e o (Maurício) Copertino estavam me avaliando", rememora, orgulhoso de seu rápido crescimento.
Mas, em seu último dia na Lusa antes de se transferir para o time do Allianz Parque, a vida lhe reservou a grande dificuldade de sua vida: uma lesão grave no joelho, que se assemelhou à do pentacampeão Ronaldo, quando atuava pela Inter de Milão, em abril de 2000.
"Foi uma lesão que nem a Fenômeno, uma luxação patelar. Mas a minha não foi para o lado, foi para cima. Também não pegou ligamentos, ainda bem", comemora.
DIVULGAÇÃO
Cassius Divulgação
Cassius em ação pelo Santos B
"Fiquei um ano parado e, quando voltei, pedi para jogar no sub-20 para recuperar o ritmo de jogo. Fiquei até o fim do ano passado. Fui bem, graças  a Deus, e vieram propostas de outro clubes, mas vim para o Santos. Mesmo no time B, é toda a história do clube e a chance de fazer a ponte pra o time A. Além de tudo, minha família ficaria mais. Foi a melhor escolha", garante o garoto de 1m92 de altura.
A paciência de Cassius surtiu efeito. Ele já completava alguns treinos com a equipe de cima e, na quinta, será opção do time no banco de reservas, já que nenhum dos 11 titulares viajou à capital amapaense. Assim, ele pode até fazer sua estreia caso o auxiliar e filho de Dorival Júnior, Lucas Silvestre, opte por colocá-lo em campo.
"O Dorival fala pra gente sempre estar preparado para quando tiver uma brecha a gente estar preparado para ser puxado (ao profissional). O Vitor Bueno e o Fernando Medeiros fizeram esse caminho. O Wesley (atacante, vindo do Botafogo-SP) sempre treina junto com os caras também", lembra.
Reencontro com o ídolo
Apesar de revelado pelo Palmeiras, o zagueiro David Braz é um dos grandes ídolos atuais da torcida santista. Prova disso são os números de vendas de camisa do clube, que, em sua maioria, de acordo com pesquisas, saíram com o "14" estampado às costas.
Quando atuava na equipe alviverde, o "xerife" do "Peixe" teve um encontro com um garoto de dez anos. O menino não perdeu a chance e tratou de tietar o defensor.
"Quando estava chegando em São Paulo, com dez anos a, seleção sub-20 estava por aqui hospedada em um hotel e um cara da minha cidade conhecia o pessoal. Daí, ele me chamou para ver e já tinha visto o David jogar pelo Palmeiras e gostava do jeito que ele jogava. Lembro que, naquele dia, a gente tirou uma foto e peguei autógrafo dele", diz.
ARQUIVO PESSOAL
Cassius David Braz Futebol Arquivo Pessoal
Cassius se reencontra com David Braz no Santos após dez anos
E quem imaginaria que, dez anos depois do acontecimento, ambos viriam a se reencontrar do mesmo lado?
"Nos vimos aqui um dia no departamento médico, eu me recuperando de um desconforto na perna e ele da contusão (na coxa, sofrida contra o Palmeiras, na final da Copa do Brasil de 2015). Daí, eu mostrei pra ele esse foto, e o David ficou maluco (risos). Mandou pra família toda dele. Ele não mudou nada, está com a mesma cara, impressionante. Ele me disse: ‘Cara, eu estou velho, olha o moleque, nem barba tinha (risos). Agora está barbado e mais alto do que eu'", ri.
"Ele virou um grande amigo, me dá muitos conselhos. Não fala só de futebol, mas na vida pessoal. Conversa muito, conta muitas histórias, uma melhor que a outra. Nós até íamos na mesma igreja juntos quando não jogávamos", finaliza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário