- DivulgaçãoEder Moraes, presidente do Mixto, preso em Brasília desde maio de 2014
A Copa do Mundo é um episódio novo para Cuiabá. Estádio cheio, jogos vistos pelo mundo todo e seleções milionárias em campo, a capital mato-grossense conheceu neste mês o primeiro mundo da bola. E com isso, deixou ainda mais claro o contraste com a realidade local. São apenas três times profissionais na capital mato-grossense, mas o presidente de um está preso e outro corre risco de extinção.
Quem está preso é Éder Moraes, presidente do Mixto. O mandatário da equipe circulou por cargos estratégicos do governo do Mato Grosso durante os últimos 13 anos, mas foi pego em operação da Polícia Federal e responde por quatro crimes, em esquema que desviou pelo menos R$ 500 milhões de cofres públicos. Está no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
O pior é que o caso de Éder Moraes respingou no Mixto. Grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal flagraram o mandatário negociando cheques de R$ 100 mil com agiotas. Segundo ele, o dinheiro era necessário para bancar salários dos atletas.
O Mixto, contudo, não é o único clube de Cuiabá que vive fase conturbada. O Mato Grosso, fundado em 1948 por uma colônia de torcedores do Palmeiras, foi rebaixado neste ano à segunda divisão do Estadual e não tem certeza sobre a sequência das atividades.
"Agora, só vamos jogar na segunda divisão do ano que vem. Nem sei o que fazer. Às vezes tentamos ir atrás de patrocinadores, mas eles preferem investir em times de mais nome. Não temos nada a oferecer. Não sei se o Mato Grosso vai continuar", admitiu Ezequiel Rosa Gomes, vice-presidente do clube.
No início, o Mato Grosso era chamado Palmeiras. O time teve outros períodos de inatividade – o último, mais longo, entre 1998 e 2007 – e já havia sido rebaixado para a segunda divisão estadual em 2010. "Contratamos jogadores que conhecemos e pagamos um salário mínimo. Às vezes, exageramos e pagamos dois salários", contou o dirigente.
O choque entre a Copa e a realidade do futebol local é grande. O Estadual de 2014 foi patrocinado pela montadora Chevrolet, que deu R$ 15 mil a cada clube (em cinco parcelas de R$ 3 mil). O contrato, que está no último ano de vigência, rendeu mais cinco aportes mensais de R$ 4 mil.
"Eu tenho R$ 35 mil para fazer um campeonato inteiro aqui. Tive jogo no [estádio] Dutrinha [Eurico Gaspar Dutra] com 60 pessoas e 30 policiais. Só de segurança, ambulância e coisas assim, tinha de pagar R$ 6 mil ou R$ 7 mil para jogar", relatou o vice-presidente do Mato Grosso.
O time de Rosa Gomes gastou um total de R$ 90 mil para disputar o Campeonato Mato-Grossense de 2014. Sem patrocinadores e com média de 141 pagantes, as receitas da equipe foram limitadas aos R$ 35 mil citados pelo dirigente. Isso mostra o déficit representado pelos torneios locais.
O Campeonato Mato-Grossense de 2014 teve média de 791 torcedores por jogo, com 456 pagantes por partida. O time que levou mais gente ao estádio foi o Luverdense, que está na segunda divisão do Brasileiro, mas é de Lucas do Rio Verde. Foram 1.501 ingressos vendidos por apresentação da equipe.
"Nosso futebol não sabe, mas está falido", disparou Rosa Gomes. "A Copa do Mundo, infelizmente, não fez nada para o futebol local. No frigir dos ovos, o que o futebol daqui ganhou? Nada! Absolutamente nada", completou.
Em 2014, Sorriso e Vila Aurora desistiram de disputar o Campeonato Mato-Grossense por falta de dinheiro. As decisões foram comunicadas em mensagens enviadas à FMFT (Federação Mato-Grossense de Futebol), que suspendeu os dois clubes por dois anos.
Em Cuiabá, a exceção recente é o Cuiabá Esporte Clube. Fundado em 2001 pelo ex-jogador gaúcho, o time foi comprado em 2009 pela Drebor, empresa que trabalha com material para reforma de pneus. A família que detém a companhia comprou uma sede para a equipe e iniciou neste ano uma reforma no espaço, que está sendo preparado para virar também um centro de treinamentos. O investimento não é divulgado.
"Em 2009, quando Cuiabá foi confirmada como sede da Copa, o clube estava paralisado, não tinha patrimônio e tinha algumas dívidas. Ia acabar. Nós vimos essa oportunidade e resolvemos pegar a administração", contou Cristiano Dresch, vice-presidente do Cuiabá. Atual bicampeã estadual, a equipe disputa neste ano a Série C do Campeonato Brasileiro.
O que faz do Cuiabá um exemplo diferente no futebol local é a presença de uma empresa que banca as contas. "O clube é deficitário em 95%. Você não tem fontes de receita. Venda de jogador a gente não tem. Bilheteria, por exemplo, a gente só espera que melhore agora, com a Arena [Pantanal]. A gente saiu de uma bicicleta estragada para um BMW e espera que isso melhore muito para todos", afirmou Dresch.
O Cuiabá já realizou um jogo na Arena Pantanal, contra o Internacional, em duelo válido pela Copa do Brasil. A partida teve 16.363 pagantes, com renda bruta de R$ 900 mil. O time do Mato Grosso ficou com a receita líquida, que ficou na casa de R$ 350 mil.
"Nosso primeiro objetivo é subir para a Série B [do Campeonato Brasileiro]. Essa é a primeira coisa. Enquanto não subirmos, o time vai ser deficitário", admitiu Dresch.
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