DIVULGAÇÃO / CBF
Dia 21 de julho de 1914, estádio das Laranjeiras, com direito a um público estimado de cinco mil pessoas que lotava as laterais do campo. Dentro das quatro linhas, 11 jogadores vestiam uma camisa branca com detalhes em azul nas duas mangas e tinham o privilégio de entrar para história: eles estavam representando a primeira seleção brasileira da história.
Era a primeira vez que os melhores jogadores da época eram convocados pela entidade máxima que organizava o futebol. Só não era uma partida oficial. Afinal de contas, poucos campeonatos existiam à época e nenhum clube ou seleção faria uma estreia já em uma partida oficial.
Do outro lado do campo estavam os inventores do futebol. Não era a seleção da Inglaterra, mas um time que era respeitado por aqui como se fosse. O Exeter City FC fizera uma excursão de jogos pela vizinha Argentina e desembarcou ao Brasil para entrar para a história junto com aquela seleção estreante. E desde o primeiro passo por aqui acabou sendo tratado como o maior time do mundo.
Milhares de pessoas costumavam ficar horas a fio em frente ao Hotel dos Estrangeiros, o mais requintado da cidade, localizado na Praça José de Alencar, nas Laranjeiras, onde a delegação inglesa se encontrava hospedada, na esperança de ver os jogadores britânicos. Houve até um episódio em que um português resolveu leiloar as cadeiras de um bar por onde os jogadores do Exeter haviam passado e ganhou um bom dinheiro com isso.
Por tudo isso, os ingleses eram mais que favoritos naquela partida. Eles só não esperavam que ali do outro lado do campo estava nascendo a seleção que se tornaria a melhor e mais campeã de todas. Com uma habilidade natural que superou o amadorismo do futebol de então, o Brasil ganhou por 2 a 0, com gols de Oswaldo Gomes e Osman. Oswaldo entrava para a história também como o autor do primeiro gol da história da seleção brasileira.
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O momento do futebol e do país era outro naquela época. Ninguém que estava ali poderia imaginar no que tudo aquilo se transformaria. O futebol deixou o seu amadorismo e se profissionalizou no Brasil. Mais do que isso: virou um dos assuntos mais importantes para todo brasileiro. A seleção que ali fazia a sua primeira partida se tornaria pentacampeã do mundo, teria o melhor jogador da história e um futebol admirado por todos os cantos do planeta.
O problema, porém, é que o último capítulo de toda essa história é para lá de desagradável e vem provocando toda uma reflexão em cima do futebol brasileiro. No ano de seu aniversário mais importante, o Brasil teve a chance de sediar a Copa do Mundo, mas acabou protagonizando um vexame, com direito a goleada por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais, a pior e mais vexatória derrota de todos os 100 anos de história.
A pesada derrota levantou uma série de questionamentos por todo o mundo. A conclusão de todos é que o futebol brasileiro deixou de priorizar a arte após as derrotas nas Copas de 1982 e 86 e passou a priorizar apenas os resultados. Longe das origens habilidosas, o vexame apareceu a longo prazo, com uma enorme escassez de talento por todo o país.
No dia em que completa o centenário, o Brasil nem técnico tem. Ao menos não oficialmente. Luiz Felipe Scolari acabou sendo colocado para fora após o fiasco na Copa do Mundo e, ao que tudo indica, o escolhido como substituto será mesmo Dunga, o capitão do tetracampeonato que não conseguiu levar o país ao hexa como técnico na Copa de 2010. O anúncio oficial, porém, só acontecerá na terça-feira.
A 'festa' pelo centenário simboliza a falta de ânimo com o futebol nacional. Nada de Brasil em campo, nada de representantes da CBF, nada nem mesmo de profissionais. Por divergência com os organizadores da partida, a seleção brasileira não entrou em campo no último domingo no que era para ser uma comemoração simbólica dos 100 anos. O Fluminense 'salvou' a festa, mas mandou o time sub-23 para fazer a partida amistosa contra o Exeter City, hoje na quarta divisão inglesa. Os gols fizeram questão de também não aparecer na ignorada festa, e o duelo acabou no 0 a 0.
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