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No início da década, três jogadores eram apontados como grandes apostas na base do Santos: Neymar, Paulo Henrique Ganso e o meia Geovane, que tinha o maior salário da base e era companheiro de Neymar nas convocações das seleções brasileiras juvenis.
Hoje, o atacante é uma das principais estrelas do futebol mundial e joga no Barcelona, além de ser o camisa 10 de Dunga no Brasil. Ganso, após viver fase difícil devido a uma série de lesões, reencontrou o bom futebol e é titular absoluto do São Paulo.
Aos 22 anos, Geovane está desempregado.
De fato, as coisas não saíram como esperado para o atleta de 22 anos, nascido em Teófilo Otoni-MG e que também passou pela base do Cruzeiro na juventude.
"Meu contrato com o Santos acabou em 15 de novembro e não foi renovado. Saio de cabeça erguida, sem mágoa alguma do clube, apesar dos problemas que tive com a diretoria", disse o meio-campista, em entrevista àRádio ESPN.
Os problemas que Geovane cita aconteceram após um longo litígio com a cúpula alvinegra, que o fez ficar encostado e treinando separado do grupo por dois anos.
Tudo por causa do Arsenal, da Inglaterra.
Wenger e o melhor do mundo
Na base da equipe praiana, Geovane era tão observado que, em 2007, quando tinha 15 anos, foi convidado para passar um período de 15 dias treinando no Arsenal, da Inglaterra. O jovem encantou o técnico Arsene Wenger, conhecido por ser um lapidador de novos talentos, e foi até apontado pelo francês como um dos próximos melhores do mundo.
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"O Wenger me chamou para conversar na sala dele. Apontou o dedo e falou: 'Você tem qualidade para ser um dos melhores do mundo'. Imagina eu, com 15 aos, escutar isso do cara! Foi uma alegria enorme, porque ele é um dos treinadores mais importantes do futebol mundial, ainda mais quando se trata do trabalho com jovens", exaltou o ex-santista.
Ao final do período, no qual chegou até a treinar com os titulares do clube londrino, os Gunners fizeram uma proposta para Geovane ficar por quatro anos e meio. Apesar de toda o poder sedutor do time inglês, que já estava até procurando trabalho para seus pais, o brasileiro considerou que ainda era muito novo para ir para a Europa.
Disse "obrigado, mas não".
Retornou, então, ao Santos, e assinou seu primeiro contrato profissional com a equipe, aos 16 anos. Seguiu brilhando na base e na seleção brasileira sub-17, conquistando todo tipo de títulos e prêmios ao lado da geração Neymar/Philippe Coutinho.
Em Londres, contudo, Arsene Wenger não esquecia do garoto, e pediu para o Arsenal voltar à carga para levar Geovane. Desta vez, o garoto aceitou. O problema foi que o time da Baixada não quis liberá-lo, e ele passou por um período bastante complicado.
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Para tirar o garoto do "Peixe", osGunners contrataram um grupo de advogados e entraram com uma ação na Justiça brasileira. Conseguiram uma liminar que encerrava o vínculo da joia com o Santos, e Geovane viajou para Londres para treinar novamente no time alvirrubro.
Na capital inglesa, tinha a companhia do também brasileiro Denílson, que havia ido do São Paulo para o Arsenal. No entanto, não conseguia ter tranquilidade para trabalhar, já que, a todo momento, era convocado para audiências no Brasil sobre a questão que envolvia o Santos.
Vendo que a situação era mais complicada do que parecia, os Gunnerspularam fora do negócio, deixando Geovane a ver navios. Com ajuda do grupo DIS, ele acabou acertando sua volta ao clube praiano, e assinou um novo contrato, desta vez de cinco anos, com o clube alvinegro.
Quando tudo parecia resolvido, seus problemas começaram.
A "fritura"
Após retornar ao CT Rei Pelé, Geovane viu que as coisas seriam bem diferentes. Outrora titular e principal atleta da base após a saída de Neymar e Ganso, ele ficou encostado. Tinha pouquíssimas chances de entrar em campo. Deixou de ser convocado para as seleções de base, e ficou de fora de duas Copas São Paulo de Juniores.
Sua redenção quase veio em 2011, quando, enfim, ele foi inscrito para jogar a Copinha. Contra o Confiança-SE, na estreia santista, fez um gol com apenas 6 segundos de jogo e já atraiu olhares. No entanto, o "Peixe" caiu nas quartas de final para o Bahia, e Geovane voltou à estaca zero.
"Fritado", ele foi emprestado ao América de Teófilo Otoni, sua cidade natal, e ao Araxá, também de Minas. Retornava ao Santos, mas nunca tinha chance de jogar.
"A partir de 2012, foi um momento muito delicado na minha vida. Fui para o profissional, mas fui afastado, e nunca facilitavam minha saída para outros clubes. Foram dois anos praticamente encostado, treinando separado. Vou lembrar até o fim da minha vida desse momento", contou.
Em 2014, parecia que as coisas voltariam a caminhar. Reintegrado ao elenco principal pelo técnico Oswaldo de Oliveira, ele teve a promessa de que teria sua redenção.
Mas ficou só na promessa.
Após mais um ano praticamente sem jogar, tendo o nascimento de seu filho como única alegria no período Geovane deixou o Santos em 15 de novembro, ao fim de seu contrato. Agora, procura um clube para jogar.
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"Pedi para o Papai Noel para ter um 2015 abençoado para mim e para minha família, e que eu possa voltar a fazer o que eu mais gosto, que é jogar bola, e dar prosseguimento na minha carreira. Tenho só 22 anos, mas já perdi muito tempo e muitas oportunidades", lamenta.
Até o momento, nenhuma proposta chegou.
"Vou treinar com um personalpara entrar voando em 2015. A vida me ensinou que as coisas são difíceis, mas 2015 vai ser o ano da minha volta por cima", promete.
O amigo Neymar
"Na vida, você tem que fazer escolhas. As que eu fiz, infelizmente, não deram certo. Isso passa milhões de vezes pela minha cabeça, todo dia. Não me arrependo de nada, mas, se tivesse oportunidade de voltar no tempo, faria tudo diferente", comenta Geovane, sobre tudo o que aconteceu entre a segunda proposta do Arsenal e agora.
ERNESTO GUERRA AZEVEDO/SANTOS FC
Nesse meio tempo, viu o "parça" Neymar, seu antigo colega de quarto em tempos de Santos e seleção brasileira, estourar e virar um dos melhores jogadores do futebol mundial. Perdeu contato, e pouco falou com ele desde então.
"Seguimos caminhos diferentes. Bem diferentes... Hoje, ele é 'o' Neymar, e eu ainda estou procurando meu espaço. Claro que, se nos encontramos, vamos conversar, dar risada, lembrar dos momentos juntos, mas seguidos rumos diferentes", afirma Geovane, que, de longe, segue acompanhando o sucesso do ex-colega no futebol europeu e na seleção brasileira.
"Torço muito por ele, é um grande amigo, um cara especial. Só tenho que agradecer pela oportunidade de um dia ter jogado ao lado dele", afirma.
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