O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, disse nesta segunda-feira que a Copa do Mundo "não é um momento de nós fazermos protestos, porque teremos todo o tempo para reivindicar e para melhorar as coisas no nosso país (depois do Mundial)". Rebelo falou com exclusividade à BBC em Londres.
O ministro adotou, assim, um discurso quase idêntico ao do secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke. Também em entrevista recente à BBC, em dezembro, o francês havia dito que a Copa "é a hora errada de protestar, porque é a hora que o Brasil deveria curtir esse momento único, um momento que eles não puderam ter desde 1950. É um direito protestar. Para eles (os manifestantes), é o melhor momento. Para mim, é a hora errada".
Se nos últimos meses Aldo Rebelo e Jérome Valcke tiveram momentos em que pareciam, literalmente, falar outra língua, agora os dois coincidem no que se refere aos protestos. E o ministro, que antes dizia não acreditar em manifestação alguma durante a Copa, já passa a admitir a possibilidade.
"Acho que, na Copa, haverá diminuído muito o número de protestos. As pessoas vão estar mais preocupadas em fazer uma festa, em celebrar, do que propriamente em protestar", avaliou. Para ele, os protestos que acontecem no Brasil não têm relação com a Copa do Mundo e muitos dos que vão às ruas estão apenas aproveitando a visibilidade internacional do evento para que suas reivindicações sejam ouvidas.
"Eu fui líder estudantil, acho que fiz protestos em todas as capitais do Brasil. Fiz muitas passeatas, estive em muitos enfrentamentos com a polícia sem que nós tivéssemos Copa do Mundo em perspectiva", disse o ministro.
"No Brasil, há uma tradição em manifestações. Todas as gerações conhecem de alguma forma o momento em que vão para as ruas lutar, protestar, buscar os seus direitos. Eu acho que essa geração está fazendo isso nesse momento. É uma manifestação protegida pela Constituição brasileira."
Para Rebelo, quem está nas ruas "é para enfrentar problemas que não foram criados pela Copa do Mundo".
"O que acontece é que a Copa é um acontecimento que as pessoas sabem que tem repercussão mundial, em que haverá uma presença grande de jornalistas, em que o mundo inteiro se volta para o Brasil. Elas podem aproveitar o momento da Copa como se fosse uma oportunidade de dar visibilidade ao que elas querem."
Quando questionado sobre os atrasos com a entrega de estádios em Cuiabá, São Paulo e Curitiba, Rebelo já não tem discurso assim tão parecido quanto o adotado por Valcke e a Fifa nas últimas semanas. Ele afirmou que o Brasil "não vai se atrapalhar" com a organização da Copa do Mundo e que sediar o evento é uma obra "razoavelmente simples" - "sem mistérios, sem segredos".
"Copa do Mundo é uma obra razoavelmente simples, que 19 países já organizaram com êxito, inclusive o Brasil. Então aqueles que estão preocupados com Copa do Mundo, que todos eles fiquem tranquilos por essa razão. O Brasil já fez coisas mais difíceis, mais importantes", disse.
"É claro que nós vamos ter, como já tivemos, esses atrasos. Tivemos os protestos na Copa das Confederações, protestos que talvez teriam atrapalhado um ou outro país, mas nós convivemos com os protestos e os respeitamos, que é uma marca da nossa democracia."
Sobre a relação com a Fifa, que neste ano voltou a fazer críticas e cobranças em relação aos atrasos de obras para a Copa do Mundo, Rebelo disse que vê, às vezes, "preocupações exageradas" da entidade com o atraso "de uma ou outra obra". Mas defendeu a Fifa das críticas de que a entidade estaria fazendo exigências grandes demais de investimentos por parte do Brasil, contra os interesses nacionais.
"Às vezes as pessoas fazem uma ideia da Fifa como se ela fosse uma espécie de 'Otan do futebol'. Eu não penso assim. Eu acho que a Fifa tem os seus méritos, as suas virtudes e seus defeitos. Nós tratamos a Fifa como ela é. Ela é detentora dos direitos da Copa do Mundo, nós somos o país anfitrião, e procuramos trabalhar juntos."
Mas fez a ressalva de que as posições do governo brasileiro sempre vão prevalecer quando houver conflito de interesses.
"A Fifa cuida dos interesses que são da Fifa. E o governo cuida dos interesses que são do país, que são o interesse público e o nacional. Quando há diferenças ou divergências entre as opiniões do governo e da Fifa, nós procuramos um acordo e um consenso. Quando não é possível, vão prevalecer as posições do governo brasileiro."
Rebelo também comentou a notícia de que o Tribunal de Contas do Distrito Federal detectou indícios de superfaturamento da ordem de R$ 431 milhões na construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Ele disse que a participação do governo federal na obra é através de empréstimos dados pelo BNDES, mas que caberá ao governo do Distrito Federal responder pelo uso das verbas.
"O governo do Distrito Federal terá que prestar contas de todos esses recursos ao seu Tribunal de Contas", disse Rebelo.
"As sentenças dos tribunais de contas podem ser transformadas tanto em ações penais quanto em punições de direitos políticos. Então todos têm que prestar contas aos seus tribunais."
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